Todos os dias eu me perco, tente entender. Cada vez que desperto, abandono o que era no ontem e renasço, inteira e partida. Cada olhar no espelho é um desafio à minha sanidade, propondo que eu reconheça o estranho rosto que me confronta.
Não, não é loucura. O nome disso é vida, vida vivida, vida sentida, vida marcada, amada, sofrida. Não posso dizer quem sou quando simplesmente ainda não deixei de ser. A fórmula da bula que me compõe não encontra jeito para remediar.
Eu já quis ser tudo na vida. Já fui nada, sendo mil. Mas a minha grande verdade matinal é sempre a dúvida, o olhar que retrocede as minhas lembranças e forma a autenticidade do que acredito.
Não posso prometer que estarei aqui amanhã, sendo que mal recordo o que pensava de você ontem. Não posso conjugar o futuro, pois gosto de tropeçar na mutável possibilidade de simplesmente mudar de ideia. O que me resta é saborear a interrogação que me cobre a pele, na busca incessante do que me responda.
Todos os dias eu me perco, mas conforme as horas passam, provo do amargo ser que sou e componho mais um dia de ideias. E assim, me acho entre as perguntas inacabáveis e descanso na humanidade crua da dependência divina. Tudo o que posso é ser, simplesmente, sem definição, para que só assim me explique.
E quanto a você, basta apenas me reencontrar todos os dias para que em cada um deles eu decida ficar.