terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Reencontro.


Todos os dias eu me perco, tente entender. Cada vez que desperto, abandono o que era no ontem e renasço, inteira e partida. Cada olhar no espelho é um desafio à minha sanidade, propondo que eu reconheça o estranho rosto que me confronta. 

Não, não é loucura. O nome disso é vida, vida vivida, vida sentida, vida marcada, amada, sofrida. Não posso dizer quem sou quando simplesmente ainda não deixei de ser. A fórmula da bula que me compõe não encontra jeito para remediar. 
Eu já quis ser tudo na vida. Já fui nada, sendo mil. Mas a minha grande verdade matinal é sempre a dúvida, o olhar que retrocede as minhas lembranças e forma a autenticidade do que acredito.
Não posso prometer que estarei aqui amanhã, sendo que mal recordo o que pensava de você ontem. Não posso conjugar o futuro, pois  gosto de tropeçar na mutável possibilidade de simplesmente mudar de ideia. O que me resta é saborear a interrogação que me cobre a pele, na busca incessante do que me responda.
Todos os dias eu me perco, mas conforme as horas passam, provo do  amargo ser que sou e componho mais um dia de ideias. E assim, me acho entre as perguntas inacabáveis e descanso na humanidade crua da dependência divina. Tudo o que posso é ser, simplesmente, sem definição, para que só assim me explique. 
E quanto a você, basta apenas me reencontrar todos os dias para que em cada um deles eu decida ficar. 

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

Depois de hoje.

 


Fugir. Para um lugar em que o vento me leve. Onde eu me apaixone até mesmo pela grama. Onde a chuva escorra meu passado pra trás.
E que assim eu tenha um encontro com quem tanto me desafia, divide, quem tanto me dói. E então, encontrando a mim, eu me vença para me perder sonhando o que deixei pra trás, de novo, de novo e quantas outras vezes forem precisas para que eu aprenda a não desistir mais de mim.

Fui me abandonando aos poucos, como quem deixa de usar um vestido. Me deixando para trás. E quando dei por mim, já não sabia mais em que parte do caminho havia deixado meus sonhos. Como juntá-os?

Poderia viver mais tempo com uma versão limitada. Escondendo na caixa do meu peito tudo que "já foi". Suportaria, se não fosse você provocar o meu regresso. Ficaria, se não fossem tuas palavras transbordando tudo o que eu já disse, numa época em que eu acreditava. Desistiria, se não existisse em mim o desejo de sempre voltar.

Me vi nos teus olhos e desejo retornar a mim.
Resgate-me.

domingo, 26 de fevereiro de 2023

Isca.

 


Mas então surgiu, como o pássaro sutil da esquina. Voo calmo, soprando palavras no meu ouvido. Não sei mais ler o que me habita, porém, se quiser escrever nas ondas, meus pés seguirão o caminho que encontrará sua direção. 


Costura

É que você nunca foi boa com linhas, Alice. Por mais que soubesse das plantas, sufocou a raiz com as mãos.  Deixou o fio se perder, deixou r...