quinta-feira, 2 de março de 2023


Pode dizer que ligou sem ter por quê. Me diz que não pensa, que não sente. Pega toda a tempestade que insiste em explodir de ti e cala, troque os nomes, chame de besteira. E quando teu braço estiver envolto na minha cintura, desaba esta tua chuva inteira. Porque você sabe que eu sou o asfalto que melhor sabe correr esta chuva que é você. Vai, me diz que não quer mais me ver, diz que não sentiu minha falta. Porque a tua boca rindo assim, junto da minha, contradiz todas as tuas palavras e as tuas mãos escrevem poemas em mim. Morra de ciúmes dos meus amigos, mas não me diga nada. Me envie flores sem nunca tê-las mandado. Me leve para jantar sem nem saber onde eu moro. Faça tudo isso sem fazer nada. Porque tudo o que eu precisava saber está no teu abraço apertado, na tua fome de mim. Está neste teu riso acanhado que me tira o ar, neste teu jeito de se achar dono de mim sem me ter. Decore meu guarda-roupa fingindo que não repara, pense em mim fingindo que esqueceu. Ah, nem adianta me olhar deste jeito agora, eu derreto mas não cedo. Você está aqui por que quis, veio por que quis. Eu não te amarrei para que voltasse, como você pediu. E não me faça discursos, sossega. Não me venha com esta história de amor, não agora. Estou ocupada distraindo meu romantismo barato com os cachos do teu cabelo. Eu não me lembro de ter te pedido nada, por que todas estas perguntas? Dê desse seu cheiro para a flor de mim, pois você sabe que me perfuma como ninguém. Pinte os corações que nunca desenhamos nos meus olhos enquanto me diz que acabou, que eu devo te esquecer. Me dá mais dessa contradição que é você que eu te dou do sossego de mim. Lá no fundo tem um pouco de mim em cada texto teu, em cada verso, nos móveis, nas ruas. E a falta de toda a coisa que te causo te faz voltar. Me diz que não quer mais, me manda ir embora da sua vida, mas fica aqui hoje. Fica porque a gente sabe o bem que este nosso mal causa e o quanto cedemos um ao outro enquanto o "não " brinca em nossos lábios. Fica hoje por hoje. E amanhã por amanhã. E no dia em que cansar de contradizer a si mesmo, fica por mim.

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